domingo, 20 de abril de 2008
A Flor do Muguet
— Sabes — dizia Florinda ao Rapaz de Bronze — em frente da minha janela há uma tília. E no Verão, quando durmo com a janela aberta, antes de adormecer olho para a tília e vejo as folhas da tília a dançar, vejo-as fazer sinais umas as outras e oiço-as conversar, e oiço um murmúrio de segredos. E de dia conto isto as pessoas. Mas todos dizem; — as folhas não conversam nem fazem sinais. E o vento que faz mexer as folhas.
— Florinda — disse o Rapaz de Bronze — vou-te ensinar um grande segredo; quando tu vires uma coisa acredita nela, mesmo que todos digam que não é verdade.
A Flor do Muguet, branca e pequenina, leve como a brisa, dançava todas as danças. E as suas campânulas baloiçavam perfumando a noite.
— Se eu fosse flor — dizia Florinda — queria ser a Flor do Muguet e estar escondida na erva dentro de duas folhas verdes.
— A Flor do Muguet— disse o Rapaz de Bronze — esconde-se entre as suas folhas para que ninguém a veja porque não quer ser colhida. Mas o seu perfume espalha-se no ar e por isso as pessoas caminham atrás dele e descobrem e colhem a flor escondida.
[O Rapaz de Bronze, Sophia de Mello Breyner Andersen]
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